10 anos de Uber - relatos de uma ex-funcionária orgulhosa (2024)

Nos últimos dias, minha timeline foi invadida por ex colegas da Uber BR, todos que já saíram da empresa, assim como eu, comemorando os 10 anos da empresa no Brasil.

Que tipo de cultura leva alguém que já saiu da empresa há anos a ainda comemorar o seu aniversário com tanta empolgação?

Me chamou a atenção o carinho com que essa galera, todos executivos de altíssimo nível, trata a experiência de ter trabalhado por lá.

Dentre esses, vários dos que postaram saíram da empresa por um layoff, assim como eu.

Eu trabalhei na Uber por 3 anos, de maio de 2016 a julho de 2019.

Entrei quando a empresa tinha recém lançado suas operações em Porto Alegre e estava no auge das brigas com os taxistas, e construir a reputação da empresa como uma marca que, ao contrário da narrativa predominante, não era ilegal mas estava ali para melhorar a vida das pessoas nas cidades, era o grande desafio - desafio este que acho que fomos muito bem sucedidos e que eu tive grande participação, como marketing manager. Saí quando a empresa fez o primeiro layoff noticiado de empresas no Brasil, 2 meses pós IPO, como uma resposta aos acionistas insatisfeitos e em que nós fomos cobaias desse movimento que na época nem nome tinha ainda.

Para mim o layoff foi inesperado e extremamente dolorido, mas, 5 anos depois, vejo que foi necessário tanto para mim quanto para a Uber. Ano passado eu fiz um artigo falando sobre isso, com todos os aprendizados de um layoff, que aproveito para divulgar novamente (vejam aqui: 4 anos depois: lições de um layoff em tech)- tudo que eu escrevi ali segue super válido.

Não guardo rancor nenhum da empresa.

Muito pelo contrário.

Guardo e levo amor.

Pela empresa e pelas pessoas que fizeram essa Big tech ser o que é hoje.

Ao ver todos os posts de comemoração dos 10 anos, só pude me sentir feliz ao ter feito parte de 3 desses 10.

Trabalhar na Uber foi a experiência mais impactante da minha carreira até hoje, sem dúvida alguma e sem exageros.

Vinda do mercado / indústria tradicional, a vaga de marketing manager foi minha estreia no mundo tech, e onde eu comecei a ver o que era a realidade de uma empresa de crescimento acelerado, que crescia dois dígitos ou mais por semana. No início por lá as metas eram semanais pois se fossem mensais não conseguiríamos ter assertividade nelas. Nós tínhamos todos os Dashboards possíveis pra acompanhar os resultados, o que foi meu início com um contato mais forte com dados, cada vez mais fundamentais. Também foi ali que eu aprendi como uma empresa global poderia ser também local, e em que eu pude liderar iniciativas incríveis como a adoção da Orla do Guaíba em Porto Alegre (um dos lugares mais impactos pela enchente que veio agora, em 2024), os primeiros patrocínios esportivos da empresa no país, com Grêmio e Inter, além de vários stunts que geravam PR como e UberAgasalho, que coletava roupas quentinhas para doação e que gerou toneladas de roupas para o rigoroso inverno portoalegrense e me rendeu um encontro com o prefeito na época, e UberNoLago, em fizemos um festival gratuito na beira do lagoa Paranoá para comemorar o aniversário de Brasília.

10 anos de Uber - relatos de uma ex-funcionária orgulhosa (1)
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Mas mais que os projetos e os números, acho que o motivo pelo qual eu levo todo esse carinho da empresa, assim como muitos dos meus ex-colegas de lá, são as pessoas.

Na Uber eu aprendi o significado de time e de gestão, de verdade.

Tive grandes líderes, como Fabio Tonetto Plein e Adriana Conde Fernandes Gomes , que me ensinaram muito sobre gestão, sabendo equilibrar cobrança com acolhimento. Com eles eu aprendi a fazer 1:1s e a importância que eles tem na gestão de qualquer profissional. Tive grandes colegas e pares, que me impulsionaram a crescer junto e tornaram a jornada mais leve, como Renato Georgiadis Rosiak , Ricardo de Barros Petersen Luiz Otávio G. Nathalia Carlesso Diego Miranda . Eles me mostraram como trabalhar lado a lado sem competição, mas com muita colaboração e escuta. E, acima de tudo, tive grandes liderados, como Fernanda Halpern Faertes , Dafne Kives e Larissa Coronet , minhas primeiras lideradas e com quem talvez eu mais tenha aprendido a ser uma “líder incisiva sem perder a humanidade”, como diz o meu livro de liderança preferido, Empatia Assertiva. Eu comecei minha jornada como líder de uma maneira bastante torta, errando muito, e com base em feedbacks dessas minhas lideradas, dos meus líderes e dos meus pares eu evoluí muito e muito do que aprendi aplico até hoje.

A maior parte dessa galera fazia parte de um grupo chamado Honeybadgers, que eram os membros do time da região sul. Naquela época, a Uber se organizava de maneira descentralizada, nacionalmente, e cada região tinha um time dividido entre marketing e operações, que tinha autonomia para gerir as decisões para usuários e motoristas de cada área. Os Honeybadgers foram batizados dessa forma pela nossa primeira gestora, Maria Arguello, uma americana que identificou que, pelas características do time, nós só poderíamos ser Honeybadgers. O Honeybadger, ou texugo de mel, é um animal que não existe no Brasil mas que é o conhecido como o animal mais destemido do reino animal. Um vídeo inspirou o título (aqui). Da narração do vídeo: “Honeybadger don’t care, it just take what it wants. Nothing can stop a honeybadger”.

Tínhamos um orgulho desse título e da unidade que ele trazia para nós como time. O time era jovem, ultra motivado, e só queria crescer junto com a empresa, ao mesmo tempo em que de fato transformava a vida das pessoas nas cidades. Faríamos o que precisava ser feito, sempre.

Conseguir aprender tanto, ao mesmo tempo em que a gente via toda uma cidade se transformando a partir do nosso trabalho, com viagens que, de táxi eram mais inseguras e custavam o dobro, e que agora eram muito mais acessíveis era revigorante.

E fazer isso com colegas que viraram amigos, com um salário bem atrativo, parecia realmente um sonho.

Só que um sonho bem trabalhoso.

Eu nunca trabalhei tanto quanto nessa época. Foram 3 anos realmente exaustivos e não quero romantizá-los pois teve muito perrengue, muita abnegação, muito descuido com a saúde e com a vida pessoal.

Eu abri mão de muita coisa na minha vida pessoal para construir uma carreira sólida na Uber. A Uber me exigia demais. Nem sempre ela foi a empresa mais humana de todas, mas eu acho que ela foi justa. As regras do jogo eram claras, me exigiam muito mais que 40h semanais, e eu topava estar ali pois entendia todos os ganhos que eu tinha, que iam muito além dos financeiros e diziam muito mais respeito às relações humanas e profissionais que eu tinha por lá. De alguma forma, aquela balança se equilibrava. E não teve layoff que fosse capaz de destruir o carinho que eu construí pela empresa e a gratidão por tudo que ela me ofereceu. Principalmente pelas pessoas que eu pude conhecer e aprender com a partir dela.

Hoje em dia, uma rotina como aquela da Uber, com trabalho praticamente full time e com tanta entrega de si mesma para o trabalho, não se encaixaria mais pra mim.

Foi uma fase linda, que eu tenho muita saudade e que me fez crescer como pessoa e como líder. Eu escolhi estar lá, por 3 anos. Hoje escolho coisas diferentes. E está tudo bem.

O negócio é a gente saber tirar o melhor de cada fase, e entender a que propósito, a serviço de que, elas estão ali nas nossas vidas, além de sempre valorizar e aproveitar as pessoas que estão conosco em cada jornada. Sem dúvida cada um sempre terá algo a nos ensinar.

Obrigada chefes, colegas, liderados. Vocês fizeram toda a diferença e tenho a honra de chamar muito de amigos hoje em dia.

Obrigada Uber por tudo e por tanto. Eu tenho muito orgulho de ter feito parte desses 10 anos e hoje seguro com mais orgulho ainda as ações da empresa que ganhei naquela época. Espero que quem trabalhe por aí hoje sinta tanto orgulho quanto eu e todos os Honeybadgers sentimos.

Vida longa e ações que sigam subindo, hein!:)

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